Como professor, minha maior preocupação é o aluno se desenvolver intelectualmente; se possível, não apenas "aprender" temporariamente, mas sim assimilar o conteúdo ao ponto de usá-lo de modo consistente. Tudo o que eu falo para os alunos em relação a consistência, disciplina, hábito e método de estudos tem a ver com isso. Porém, às vezes sou aparentemente mal compreendido, e recentemente isso ocorreu de modo a fazer alguns alunos reagirem negativamente. Desejo que tanto eles quanto os demais tenham sucesso nos estudos, no vestibular e no ensino superior, ou seja, o que pretendo explicar aqui não deve ser confundido com alguma mágoa que eu possa ter guardado, e deve ser compreendido como uma tentativa de consertar algum mal-entendido que ficou pelo caminho.
Antes de mais nada, o que sempre digo sobre o uso excessivo de redes sociais, WhatsApp e joguinhos bobinhos não vale para o celular como um todo. O problema é que esses três tipos de distrações sequestram por vezes nossa atenção por meio de um mecanismo muito semelhante ao que causa vários vícios. Assim, a produção de neurotransmissores em nosso cérebro fica desregulada, o que contribui para a dificuldade em manter o foco, em raciocinar, em construir memórias complexas e em permanecer realizando tarefas importantes por elas serem muito "cansativas" e "chatas", ao contrário daquela postagem curta e superficial no Instagram e aquela mensagem curta e divertida no aplicativo de conversa. O vício em estímulos curtos, fáceis e "prazerosos" torna qualquer processo de aprendizagem mais difícil. Obviamente o celular é muito mais do que isso, o que sempre me impediu de condená-lo por completo. Desse modo, dizer que eu implico com o celular não é verdade.
Onde alguns veem implicância há, na verdade, uma preocupação com os alunos, que vai muito além do momento em sala de aula. Se o aluno não consegue, em sala de aula, desgrudar de um aplicativo danoso para seu desenvolvimento, eu fico imaginando como é no restante do dia. Sem uma rotina saudável de estudos, tudo fica mais difícil. Será que o aluno grudado em redes sociais estuda de uma a três horas por dia, em um momento só para ele, com disciplina e método, deixando milagrosamente distrações eletrônicas de lado? Provavelmente não. Chamar atenção para isso é sinal de preocupação de alguém que lhe quer bem. Não haveria outro motivo, pois só há desgaste de minha parte em fazer isso. Peço desculpas se isso não tinha ficado claro antes.
Mas eis que alguns alunos resolveram reclamar formalmente depois de um desses momentos em que eu chamei a atenção. Disseram que eu "fico" reclamando do celular (mesmo não sendo do celular que eu reclamo, mas do uso excessivo de algumas coisas nele) e "aproveitaram" para comentar outras coisas. Compreendo que considerem exagerado o quanto chamo atenção por isso, e peço desculpas por talvez não ter explicado o motivo: vencer um hábito danoso ou um vício requer repetição e paciência. Pedir várias vezes para controlar o uso daquilo que dá um "prazerzinho" superficial obviamente é chato, mas é algo que se justifica pelo impacto disso na aprendizagem.
Aproveitaram para dizer, também, que as aulas são muito maçantes, o que parece justificar o uso excessivo de distrações no celular para descontrair a mente. Ficou claro que o motivo de dizerem isso foi eu ter chamado atenção, não as aulas serem de fato maçantes (e muitas vezes são mesmo, o que já explico). O que evidencia isso é o fato de usarem as suas distrações eletrônicas também nas outras aulas, mas nada falarem delas, já que fui eu que chamei atenção várias vezes. É como se quisessem que eu não os incomodasse e os deixasse no mundo das redes sociais e das conversas por chat. Como eu me preocupo com todos, não posso fazer isso, e peço desculpas novamente se não deixei isso claro. Além disso, não deixo de lado conteúdos importantes e os repito algumas vezes muito diferente de outros professores de língua portuguesa que pesquisei, considerados "legais", mas que enganam com superficialidades e com a falta de abordagem a tópicos importantes. São anos para saber selecionar os conteúdos importantes, o nível de repetição para aprendê-los e a quantidade de exercícios para assimilá-los. Praticar leitura de texto repetidamente, intercalando com tópicos gramaticais, muitas vezes usando questões de vestibular, pode ser "chato", mas minha preocupação é com o necessário, não com o divertido (e muitas vezes enganoso).
Por fim, falaram que não entendem a matéria e que estou na apostila 1 (em pleno começo de julho). Sobre isso é preciso apontar uma contradição: como poderiam "saber" que estou na apostila 1 se não entendem o que eu digo? A resposta é que não poderiam. Para entender, é preciso prestar atenção, o que os demais alunos fazem. E se prestassem atenção, além de estudarem conforme eu sempre sugiro (ai que professor chato, sempre falando da importância de estudar com disciplina e com método...), talvez descobrissem que estou entre a quarta e a quinta apostila. Nesse ponto, é possível dizer que houve uma mentira. E teriam mentido por quê? Tudo indica que para tentar me prejudicar. Vejam bem, opinar sobre aula ser maçante e eu ser chato com cobranças é uma coisa em nível subjetivo; outra coisa é afirmar algo mais objetivo que não corresponde aos fatos. Mentir para prejudicar o professor? Bem, conseguiram incomodar um pouco, já que isso gera uma necessidade de resposta. Mas tentar prejudicar o professor por ele fazer algo com o objetivo de orientar e ajudar os alunos? Peço desculpas, pela quarta vez, se esse objetivo não tinha ficado claro para todos, porém tenho justificativa para tudo isso. Leciono há muitos anos e percebi que em pré-vestibular ser o professor legalzão muitas vezes leva o aluno ao engano. Pela conexão de "amizade" ou algo parecido muitas vezes não é percebido que muito conteúdo não é aprendido. Então, nunca tive medo de ser "chato" com aluno, já que muitas vezes quem se preocupa com alguém de verdade precisa ser chato às vezes (pais e responsáveis, por exemplo, são muitas vezes chamados de "chatos" por fazerem a coisa certa no tratamento dos filhos). Dedicação, consistência, disciplina e método são coisas chatas? Que sejam. Se são importantes, sempre vou reforçá-las.
Falta pouco para o vestibular. Vamos deixar mal-entendidos de lado e dar um gás nos estudos, com disciplina, consistência e método!